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 Rapaz, só quem memoriza poemas sabe dos efeitos disso em sua paisagem interior. Mas, como eu não tenho prestígio, nada do que eu disser te convencerá. Vou apelar a alguém que tenho quase certeza que você, no mínimo considera relevante o que ele diz. Veja se o identifica:
 
 «Vou ler aqui alguns poemas e não quero que vocês os analisem, não quero que vocês os estudem, eu quero que vocês os decorem. A sua memória dos poemas não precisa ser tão exata, não precisa ser como o Bruno Tolentino que sabia literaturas inteiras de cor. Se puder fazer isso, melhor. Antigamente tinha muita gente que era assim; decorar muitos poemas era uma prática normal porque isso faz parte da absorção dos modos de expressão. Isso era coisa bem comum na Europa, mesmo para um sujeito sem nenhum objetivo literário na vida — como Adolf Hitler, que sabia trechos inteiros de Schopenhauer e Nietzsche de cor. O nosso Getúlio Vargas sabia trechos de Nietzsche de cor; o Roberto Campos sabia metade da Divina Comédia de cor; e assim por diante. E quando chegamos no topo da hierarquia literária, com o Bruno Tolentino por exemplo, falávamos de qualquer poeta em qualquer língua e ele sabia uns cinco ou seis poemas do sujeito de cor, era algo impressionante. Se falávamos de um poeta polonês ou um poeta russo, ele os recitava. O Bruno não falava russo, não chegou a aprender o idioma, mas ele sabia poemas russos de cor. O grande filólogo húngaro Paulo Rónai, quando soube que ia ter de mudar para o Brasil, começou a aprender português. Como é que ele aprendeu português? Decorando poesias portuguesas e brasileiras primeiramente e, muito depois, começou a tentar traduzi-las. 

«Você tem de ouvir o poema como se você mesmo o estivesse escrevendo, como se fosse a sua própria fala. Você vai decorar diferentes poemas. Nós começaremos com a poesia lírica. O que é a poesia lírica? É a expressão de um momento, um sentimento de um momento. Nunca é uma idéia filosófica, isto é, o sujeito que expressou uma idéia aqui pode expressar outra completamente antagônica num outro momento. Você não pode de maneira alguma interpretar os poemas como se fossem teses filosóficas, que são sentenças que pretendem ter validade universal. A poesia lírica jamais pretende ter validade universal, ela expressa o que o poeta está vendo, sentindo ou experimentando naquele momento. Por exemplo, uma poesia de Giosuè Carducci que é de louvor a Satanás. Isto quer dizer que ele fosse um satanista? Não, quer dizer que naquele momento ele estava sintonizado naquilo, num outro momento poderia até ter sentimentos cristãos. Esses sentimentos e experiências expressos na poesia lírica são deslocáveis, eles podem ser usados por várias pessoas, em vários momentos, para expressar o que elas estão sentindo naquele momento. Então os poemas têm de ser absorvidos para se tornarem linguagem sua, e é por isso que têm de ser decorados.» 
 Mas de qualquer modo, a nota abaixo pode esclarecer: 

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