Olhar com Intensidade ...Parece-me que aprender é surpreendentemente difícil, tal como o é também o ouvir. Nunca ouvimos nada verdadeiramente, porque a nossa mente não está livre, os nossos ouvidos estão entupidos com as coisas que já conhecemos, e portanto o ato de ouvir torna-se extraordinariamente difícil. Penso — ou melhor, é um fato — que se conseguirmos ouvir algo com todo o nosso ser, com vigor, com vitalidade, então o próprio ato de ouvir torna-se um fator libertador, mas infelizmente vocês nunca ouvem realmente, pois nunca aprendem a fazê-lo. Afinal, só aprendem quando oferecem todo o vosso ser a algo. Quando vocês se entregam com todo o vosso ser à matemática, aprendem, mas quando se encontram num estado de contradição, quando não querem aprender, mas são forçados a fazê-lo, nessas circunstâncias a aprendizagem torna-se um mero processo de acumulação. Aprender é como ler um romance com inúmeras personagens; requer a vossa total atenção, não uma atenção contraditória. Se quiserem conhecer uma folha - uma folha primaveril ou uma folha estival — devem olhá-la verdadeiramente, ver a simetria que há nela, a sua textura, a qualidade da folha vivente. Existe beleza, existe vigor, existe vitalidade numa simples folha. Portanto, para conhecerem a folha, a flor, a nuvem, o pôr-do-sol ou um ser humano, têm de olhar com toda a intensidade. (A vida: 365 meditações diárias, Krishnamurti)