Sábado

Mesmo sem auriculares, por vezes é muito simples conseguir que a comunicação social engula e depois regurgite mensagens com o “tom adequado”, em especial ao nível das parangonas. veja-se esta:



https://www.jn.pt/2051790844/mais-187-milhoes-de-euros-para-devolver-tempo-aos-professores/




Lendo a notícia,  percebe-se que essa é a versão do governo (“O acréscimo, justifica o Governo no relatório, deve-se a medidas para valorização da carreira, a recuperação do tempo de serviço dos professores e a contratação de docentes, sendo o principal objetivo reverter o efeito das aposentações”.), mas a verdade é que o título a reproduz sem qualquer detalhe adicional e engana os leitores. 



Porque é mentira que sejam 187 milhões para devolver o tempo de serviço aos professores, pois são 187 milhões de acréscimo em relação ao ano passsado para todas as despesas, incluindo aquilo que seriam os aumentos salariais “normais” (actualização com base na inflação+progressões). Se tivermos um cuidado de ir às especificações, quando forem públicas, perceber-se-á que, mesmo sem a RTS esta rubrica das despesas teria de aumentar uns 150 M€, até porque a inflação prevista é de 2,3% e haveria gente a progredir, mesmo com as quotas e vagas. Se estes 187 milhões representam um acréscimo de 3,3% em relação a 2024, a verdade é que o valor ajustado é de apenas 1% de acréscimo na despesa.



Mas, já agora, vamos lá ser chatos e voltar a dizer que este é o valor da “despesa” bruta e que, a ele, deve ser deduzido o valor da “receita” fiscal sobre o rendimento dos professores. Ou seja, mesmo com boa vontade, o valor líquido do aumento da despesa andará pelos 0,7% em relação ao ano anterior.



È verdade que sou de Letras e não tirei nenhuma pós-graduação em excel para totós, nem alguma vez fiz contas para um OE, mas resta-me a capacidade de pensar um pouquinho. Só um pouquinho.



Se a comunicação social tradicional se queixa da falta de rigor das “redes sociais”, quer-me parecer que a opinião pública, para ser devidamente informada, precisa de um pouco mais de esforço da comunicação social tradicional e que não se limite a reproduzir o material que chega por mail ou whatsapp.



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