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 A falta que os olhos nos fazem!

XXX Domingo Comum – Ano B | Mc 10, 46-52



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Lou Little era o treinador de futebol americano na Universidade da Columbia. Lou lembra-se de um rapaz que tentou entrar na equipa e que não era lá grande jogador. Contudo, o rapaz tinha uma forte determinação e um contagiante entusiasmo. E Lou viu nisso algo positivo para o espírito de equipa.



“Nunca será um grande jogador” – pensava para si mesmo – “mas pelo menos estará no banco encorajando os outros.” O treinador gradualmente passou a admirar e a simpatizar com o jovem. Recorda-se de o ver frequentemente a passear com o seu pai pelo parque; GUIANDO-O, para ser mais correto, pois o pai do jovem era cego. O rapaz nunca teve vergonha de seu pai, nem de andar com ele; falavam, riam como se não soubessem que havia alguém que os observa com pena. Outras vezes, passeavam sem dizer palavra alguma um ao outro.



Um dia, porém, Lou recebeu um telefonema informando-lhe que o pai do rapaz havia falecido.



Cerca de uma semana depois, o jovem regressou aos treinos, mesmo antes do grande jogo da temporada. Lou dirigiu-lhe a palavra: “Posso fazer alguma coisa por ti? Em que é que te posso ajudar? Pede, tudo o que quiseres…” Para grande embaraço do treinador o rapaz pediu-lhe “Quero entrar neste jogo.” Lou não sabia que fazer. O rapaz nunca tinha pedido para entrar num jogo, mas tinha prometido. E este que era um jogo decisivo para o campeonato… Mas promessas são promessas… O treinador colocou-o de início, se depois precisasse de o retirar.



Para grande surpresa de todos, não só jogou bem como foi uma peça fundamental na vitória da equipa! Ele entrou no jogo como se tivesse uma energia interior do outro mundo. Lou deixou-o jogar até ao fim. Quando o jogo acabou, o treinador Little e os outros jogadores perguntaram-lhe: “o que é que se passou naquele campo hoje?”. O rapaz simplesmente respondeu: “HOJE FOI A PRIMEIRA VEZ QUE O MEU PAI TEVE A OPORTUNIDADE DE ME VER JOGAR.”https://humbertins.wordpress.com/2024/10/26/a-falta-que-os-olhos-nos-fazem/#_ftn1




Esperar que uma pessoa chegue ao outro lado da vida para VER parece pouco para Bartimeu. Deixar assuntos por resolver deste lado da vida para os resolver do outro lado do véu… não o deixa conformado.



É curioso o que pode acontecer-nos diante de um cego que pede… É ele o cego, mas somos nós que fazemos que não o vemos… a pedir. “É uma grande verdade aquela que diz que o pior cego é aquele que não quer ver.”https://humbertins.wordpress.com/2024/10/26/a-falta-que-os-olhos-nos-fazem/#_ftn2




Ponho-me na pele desse cego… Para aqueles que te evitam, não tens passado nem futuro. Estendes a tua mão enquanto eles passam com medo e desprezo. Por detrás dos teus olhos, sentes a dor; conheces a crueldade dos outros; compreendes o que é ser evitado, como se a cegueira se pegasse, e tu, envergonhado e acorrentado pela culpa. As moedas tilintam no copo. Eles sussurram: “nada vai mudar”.



Bartimeu pode não ter os olhos da cara… Mas que importa os olhos da cara? Não são os olhos da cara aquilo que em nós vê! Dizia o médico do romance de Saramago: “na verdade, os olhos não são mais do que umas lentes, umas objetivas, o cérebro é que realmente vê.” E eu acrescento: e o coração.



E são os olhos do coração de Bartimeu que ainda estão iluminados pela esperança. Ansiava ver como dantes.



Por agora, és uma pessoa de fora, a olhar para dentro. Ainda assim, há esperança dentro de ti.



Sabes o que queres. Mais do que qualquer outra coisa no mundo, queres ver. Soubéssemos nós querer como queres tu! Nós, nisso, somos muito cegos: nem sempre sabemos bem o que queremos. “A cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança”.https://humbertins.wordpress.com/2024/10/26/a-falta-que-os-olhos-nos-fazem/#_ftn3
 E, nisto, tu vês mais do que muitos de nós!



Há em ti uma certa clareza de visão que vem do conhecimento da verdadeira condição de ser humano: a fragilidade. O facto de saberes quem és verdadeiramente, por baixo da superfície das coisas, onde vives com as tuas mágoas e medos, angústias e esperanças, coloca-te numa posição que te permite clamar honestamente, com fé arriscada, por aquilo que realmente precisas: “que eu volte a ver!”



Quando a multidão desce a estrada, Bartimeu sabe que Jesus está com eles. Bartimeu conhece a sua verdadeira condição e tu também. Não sabes? Sabes o que é sofrer. Sabes o que é ser envergonhado e evitado. Acima de tudo, porém, sabes o que é ver e, oh, como queres esse dom outra vez. Acreditaste que Aquele que caminha na tua direção, sem O ver, é o único que pode mudar a tua vida. Aquele que te pode tornar completo. Aquele que pode dar-te a visão. Aquele que pode trazer-te luz. Quando Ele se aproxima, só há uma coisa que podes fazer. Corres para Ele, apesar dos gritos daqueles que te pedem para ficares quieto. E gritas: “Tem piedade de mim!” Os que pensam que são donos de Jesus mandam-te calar… que não atrases o Mestre que está com pressa… Esses que pensam que são donos de Jesus – e da sua agenda – e que não te acolhem nos seus santuários, nem te convidam a sentares-te à mesa com eles. Dão-te, isso sim, umas moedinhas para estares quieto; eles com a sua “caridadezinha” de descarga de consciência…



Eles não sabem que, de todo o evangelho de Marcos, és o único a seguir Jesus “pelo caminho” (v. 52). És o único discípulo! Um só! Tu! Tu que, a primeira coisa que (re)viste na vida, e a que realmente importa, foi o Seu rosto!



LEITOR 1 (em modo de oração)



“A tua face eu procuro, Senhor. Não escondas de mim o Teu rosto!” (Salmo 26,8)







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 Lonni COLLINS PRATT – Daniel HOMAN, Here I Am, Lord: A Prayer Journal for Teens (Our Sunday Visitor, 1998)



https://humbertins.wordpress.com/2024/10/26/a-falta-que-os-olhos-nos-fazem/#_ftnref2
 José SARAMAGO, Ensaio sobre a cegueira.



https://humbertins.wordpress.com/2024/10/26/a-falta-que-os-olhos-nos-fazem/#_ftnref3
 Ibidem.

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