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 A questão do aborto não deveria ser sobre o tempo máximo ou mínimo, tampouco sobre se há vida antes, durante ou após a concepção, isto tudo é balela. O que os nobres deputados que se dizem contra o aborto não percebem é que eles vão ajudar a normatizar o aborto junto a opinião pública, porque conseguem ver o ponto real da questão. 
O pressuposto da lei do aborto é que as mulheres não mentem e que todas possuem carácter ilibado. Basta a mulher se apresentar numa unidade de saúde credenciada e "declarar ter sido vítima de estupro", sem, ao menos, a necessidade sumária de apresentar um bo. Ainda que se prove que não tenha havido qualquer estupro, a declarante não responderá por "falsa comunicação de crime". Alguém foi estuprada hoje e resolveu, somente, após 5 meses, comparecer a uma unidade de saúde e, então, declarar ter sido vítima de um estupro e obrigar um médico a fazer um aborto. 
O direito ao aborto para vítimas de estupro é uma questão individual de cada mulher, vítima de estupro. Eu não posso determinar o que seja bom para ela. A liberdade é assim, uma vítima de estupro pode ter a liberdade de fazer um aborto. Defendo, ainda, estendendo o conceito de liberdade, que mesmo uma mulher que não foi vítima de aborto tenha o direito de abortar, mas nunca num serviço público. Isto não é função do Estado. A função do Estado é proteger o território e os cidadãos de injustas agressões externas. Se alguém deseja abortar, deve entender e ser responsável pelas consequências desta ação. O fato que eu pessoalmente seja contra, não quer dizer que todos deverão ser contra. 
O grande problema é normatizar o aborto e ninguém poder se manifestar contra umanorma que pressupõe que todas as pessoas do gênero feminino não mentem. Eu trabalhei 30 anos na segurança pública e posso garantir aos senhores, que vi inúmeras mulheres mentindo sobre todos os tópicos possíveis, inclusive sobre estupro.