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 Plataforma do MP monitora casos de feminicídio no AC e ganha prêmio nacional: 'a gente só consegue combater o que conhece'

 <img src="https://s2-g1.glbimg.com/U-I8UTpF4l5D2BK4fHfWOxtHayw=/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2024/A/2/yB4xgwR4SDsFJEmxJahw/1f04d857-ded0-41be-beb8-32cdbf4ca8fc.jpeg"/>     Feminicidômetro do Observatório de Violência de Gênero do Ministério Público do Acre (MP-AC), implantado em 2021, é pioneiro em análise dos dados de feminicídio no Brasil. Informações ajudam nas análises, estudos e pesquisas sobre a violência de gênero que ocorre no Estado.  Plataforma do MP que contabiliza feminicídios no Acre ganha prêmio nacional
Hellen Monteiro/g1 AC
O feminicídio é o assassinato de mulheres em razão do gênero, ou seja, quando a vítima é morta pelo simples fato de ser mulher. No Acre, o número alarmante de 76 vítimas foram brutalmente mortas de janeiro de 2018 a 4 de novembro de 2024, dado este que choca a sociedade, os órgãos de polícia e o Ministério Público do Acre (MP-AC), que também acompanha os desdobramentos e luta por justiça junto às famílias enlutadas.
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Para contabilizar, estudar e cobrar políticas às autoridades competentes, o MP, através do Observatório de Violência de Gênero, criou a plataforma Feminicidômetro que busca reunir esses dados e traçar estratégias de combate a este crime. Em 2023, o estado ficou em terceiro lugar nas taxas de feminicídio (2,6 mortes a cada 100 mil mulheres), ficando atrás de Rondônia e Mato Grosso.
A plataforma, criada pelo MP-AC, ainda enumera os casos de vítimas de tentativa de feminicídio neste período: 111.
No fim do mês de outubro, o programa venceu o Prêmio CNJ Juíza Viviane do Amaral 2024, na categoria “Atores do Sistema de Justiça”, em Brasília (DF). Em suas publicações, o Feminicidômetro conta histórias de vítimas do crime. O g1, com autorização do Observatório, narra agora algumas dessas tristes histórias extraídas da plataforma.
Sebastiana e Maria Alice
A agricultora Sebastiana Amelia Pereira Pimentel, de 51 anos, foi morta com um tiro no pescoço, pelo próprio filho de criação, na virada do ano de 2018 no ramal Arco Íris, em Rodrigues Alves. O corpo foi encontrado duas horas após o crime, segundo a rigidez do cadáver detectado nos exames periciais, como se estivesse em posição de fugir.
Sebastiana trabalhava na casa de farinha, que era de onde tirava o sustento da família como a maioria dos agricultores e agricultoras do Vale do Juruá. Estima-se que ao receber o filho, tentou aconselhá-lo para ele abandonasse o crime, sair da facção a que pertencia e voltar para casa.
Sebastiana Amelia Pimentel morreu após ser atingida no pescoço com um tiro de espingarda
Reprodução 
Não foi o que aconteceu. Adriano Pereira, de 32 anos, decidiu por fim à vida da mãe. Após o crime, o homem aterrorizou a comunidade e além da mãe, também matou, com um tiro no pescoço, a vizinha Maria Alice de Araújo, de 50 anos, que deixou sete filhos. Ela estava na porta da cozinha de casa quando foi alvejada. 
A polícia começou uma incessante busca. Disseram que o fugitivo da Justiça estava com medo da facção a que pertencia e da facção rival. Um cerco policial foi feito e em reação, Adriano disparou contra os policiais, acertando a coxa de um deles. No tiroteio, ele foi alvejado e morreu no local.
Corpo de agricultora foi levado pelo Instituto Médico Legal (IML) de Cruzeiro do Sul 
Divulgação/Polícia Militar do Acre
Marly dos Santos
A dona de casa Marly dos Santos, de 48 anos, foi morta a tiros de espingarda em 17 de março de 2019, no Ramal do Milton, na Transacreana, em Rio Branco. Ela foi encontrada pela polícia com 20 ferimentos.
De acordo com autos do processo, no dia anterior, José mandou o filho de 16 anos chamar a mãe para que eles pudessem conversar sobre os trâmites da separação e da partilha de bens. Ela já havia pedido ao ex-marido que vendesse a propriedade e dividisse o dinheiro com ela, lhe dando o que era de direito.
Elton dos Santos foi preso pela DHPP nesta sexta-feira (12) após mais de três anos foragido
Reprodução
Elton Pereira dos Santos, preso somente três anos depois, era trabalhador rural e sem antecedentes criminais, porém sempre foi um homem violento com a esposa. No dia seguinte, Marly chegou na casa onde agora era só dele, junto com o filho e o vizinho. O homem pediu ao filho mais velho que saísse do local.
Quando os filhos retornaram, a mãe já estava morta próximo a uma bicicleta na lateral da casa. O pai recarregava a espingarda e, após o filho mais velho entrar em luta corporal com ele, o pai disse: “eu não tive escolha, estava fora de si”. 
Plataforma é pioneira no Brasil
Hellen Monteiro/g1 AC
Plataforma reconhecida nacionalmente
As histórias de Sebastiana, Maria Alice e Marly estão inclusas no Feminicidômetro. Lançando em 2021, a plataforma é uma ferramenta de pesquisa e controle social que oferece à população acesso a dados não sensíveis sobre os casos de feminicídio no Acre. 
A coordenadora administrativa do Observatório, Otília Amorim, explica que a principal fonte de informações é o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Além disso, são verificados os boletins de ocorrência registrados na Polícia Civil. De acordo com ela, a atribuição do Observatório é a análise das informações e pesquisa.
"Na plataforma você vai ter informações não sensíveis do perfil da vítima e perfil do autor. Nós já temos os dados aqui que a gente pode fazer um relatório e enviar, para pensar sobre o combate desses crimes", complementou.
Dentro do feminicidômetro há a publicação Realidades que fala sobre o femincídio e conta histórias de vítimas
Divulgação
A procuradora de Justiça do MP-AC e coordenadora geral do Observatório, Patrícia Rêgo, salienta que essa é uma ferramenta de controle social e pode ser utilizada por toda a rede de atendimento, sistema de justiça e imprensa. Na época da implementação da plataforma, o estado acreano tinha a maior maior taxa de feminicídios do Brasil.
"É importante para a indução e fomento de políticas públicas. A gente só consegue combater algo quando a gente conhece e a ideia do observatório é isso: fazer o estudo sobre a violência de gênero no nosso Estado", disse.
Ao acessar https://feminicidometro.mpac.mp.br/, há publicações, infográficos estudos e publicações que são atualizadas pelo menos a cada 15 dias. 
O Prêmio CNJ Juíza Viviane do Amaral, que laureou o projeto, está em sua 4ª edição e tenta conscientizar os integrantes do Sistema de Justiça e a sociedade sobre a vigilância contínua no enfrentamento à violência doméstica.
A premiação, que homenageia em 2024 a magistrada Viviane Vieira do Amaral, vítima de feminicídio, também reconheceu inciativas de instituições e organizações que não fazem parte do Sistema de Justiça.
Feminicidômetro ganhou prêmio nacional em outubro de 2024
Divulgação
Apoio às vítimas
Entre 2018 e 2022 no Acre, equipes multiprofissionais do CAV fez visitas e atendimentos psicossociais e jurídicos. Desde a sua implementação, o projeto já atendeu diretamente 60 famílias. Além de fornecer informações sobre a atuação do MP, a plataforma visa dar transparência à população a respeito do percurso do processo penal, detalhando-o em uma linha do tempo: 
data do fato;
data da denúncia pelo MP;
data do status do processo;
status do processo;
resultado: sentença de primeiro grau, recursos, decisões em segundo grau, trânsito em julgado e arquivamento.
É feito um processo de verificação para acrescentar novas informações caso a caso. Cada processo que ainda está em aberto é averiguado para que, caso haja atualização, seja modificada na plataforma. Também há espaço para denúncias e perguntas que serão respondidas pela equipe do MP.
Observatório de gênero do Ministério Público do Acre busca combater a violência
Hellen Monteiro/g1 AC
Perfil das mulheres
O dados mostram que as mulheres que mais morrem no Acre por esse crime são jovens entre 17 e 34 anos, pardas e pretas, com baixo poder aquisitivo, baixa escolaridade, com filhos pequenos que acabam se tornando órfãos do feminicídio. Os crimes ocorrem em casa, no período da noite ou da madrugada, que é o período de descanso delas. 
"Essas mulheres são mortas e eles [crianças] ficam sem pai e sem mãe. Porque em regra, o agressor é o companheiro e ele vai preso. É um crime de fácil elucidação, já que é um crime muito pessoal. Na maioria dos casos é utilizado faca que é um utensílio doméstico, que está ali na casa. Também demonstra os requintes de crueldade. Nunca é um golpe só. Geralmente são muitos golpes de faca, nessa região, do rosto, peitoral, pescoço, então, é um crime de ódio mesmo", comenta a promotora Patrícia Rego.
Observatório de gênero do Ministério Público do Acre busca combater a violência
Hellen Monteiro/g1 AC
A promotora esclarece que a repressão desses crimes é muito importante, mas é necessário pensar na prevenção. Além disto, ela comentou também que o feminicida geralmente é um cidadão comum.
"Ele vai à igreja, ele vai deixar os filhos na escola, ele é o vizinho que você cumprimenta todo dia, ele é o pastor da igreja. Então dizem: ‘Ai ele surtou, era um rapaz tão bom, um pai tão bom’ . Não era. Aquela mulher estava sofrendo sozinha", lamenta ela.
Ainda segundo ela, é importante que a vítima peça medida protetiva, já que cerca de 90% das mulheres que denunciaram, não foram vítimas de feminicídio. 
"Observa-se que a medida protetiva é importantíssima. As que tem medida protetiva e morrem, infelizmente são a exceção que confirma a regra e não o contrário", assegurou. 
Dentro da publicação, há ilustrações que representam a violência contra a mulher
Ilustração: Beatriz Bentes
Aumento na pena
Em outubro deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a lei aprovada pelo Congresso Nacional que aumenta a pena para o crime de feminicídio, isto é, o assassinato motivado pelo fato de a vítima ser mulher.
Conforme a legislação assinada pelo presidente, a pena para esse tipo de crime, anteriormente estabelecida de 12 a 30 anos, passa a ser de 20 a 40 anos de prisão.
Além disso: 
torna o feminicídio um crime hediondo;
estabelece que o processo judicial deve tramitar com prioridade;
define pena de 5 anos em caso de violência doméstica;
aumenta a pena em 1/3 se houver descumprimento de medida protetiva.
Plataforma venceu o prêmio do Conselho Nacional de Justiça no final de outubro em Brasília
Hellen Monteiro/g1 AC
A PM do Acre disponibiliza os seguintes números para que a mulher peça ajuda:
(68) 99609-3901
(68) 99611-3224
(68) 99610-4372
(68) 99614-2935
Veja outras formas de denunciar:
Polícia Militar - 190: quando a criança está correndo risco imediato;
Samu - 192: para pedidos de socorro urgentes;
Delegacias especializadas no atendimento de crianças ou de mulheres;
Qualquer delegacia de polícia;
Secretaria de Estado da Mulher (Semulher): recebe denúncias de violações de direitos da mulher no Acre. Telefone: (68) 99930-0420. Endereço: Travessa João XXIII, 1137, Village Wilde Maciel.
Disque 100: recebe denúncias de violações de direitos humanos. A denúncia é anônima e pode ser feita por qualquer pessoa;
Profissionais de saúde: médicos, enfermeiros, psicólogos, entre outros, precisam fazer notificação compulsória em casos de suspeita de violência. Essa notificação é encaminhada aos conselhos tutelares e polícia;
WhatsApp do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos: (61) 99656- 5008;
Ministério Público;
Videochamada em Língua Brasileira de Sinais (Libras) (https://atendelibras.mdh.gov.br/acesso)
Sete mulheres já foram vítimas de feminicídio no Acre em 2024
VÍDEOS: g1

https://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2024/11/22/plataforma-do-mp-monitora-casos-de-feminicidio-no-ac-e-ganha-premio-nacional-a-gente-so-consegue-combater-o-que-conhece.ghtml