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 No ano de 2007, quando mídia física ainda era muito relevante no mercado, o formato Blu-ray se firmava como sucessor do DVD, ainda competindo com o HD-DVD; ambos empregavam o mesmo sistema de criptografia, muito mais sofisticado que o do DVD, AACS. Desenvolvido pelo consórcio AACS LA, o sistema operava apenas em software proprietário, com uma série de chaves criptográficas (em forma de hashes, escondido pero no mucho),  assinaturas digitais para codificar cada título, mas todas dependente de uma chave mestra (simplificando muito), compartilhada entre vários aparelhos dedicados e programas como PowerDVD e WinD D.

E como DRM sempre foi e sempre será como amarrar cachorro com linguiça, não demorou para alguém tecnicamente hábil extrair da memória RAM a "chave mestra" enquanto ela descriptografava algum fluxo de dados. O cara postou em um fórum a chave de 128 bits que permitia reproduzir e copiar blu-ray para "backups" de todos os filmes lançados até então.

Por toda sua sofisticação técnica, os Blu-rays e HD-DVDs tinham um ponto único de falha, desde dezembro de 2006 já estavam desenvolvendo software para desbloquear o blu-ray assim que a chave estivesse disponível.

Uma chave nada mais é que um número. Em notação hexadecimal:


09 F9 11 02 9D 74 E3 5B D8 41 56 C5 63 56 88 C0

Os advogados da AACS-LA ficaram putos da vida e despacharam inúmeras cartinhas intimando fóruns e sites (até a Wikipédia) a removerem qualquer menção da chave em qualquer representação possível, efetivamente tentando censurar um número.

Como reação, os fóruns, blogs e redes sociais inundaram a internet com os 16 caracteres hexadecimais, representado de todas as formas possíveis. A mais famosa em um uma sequência de cores, fizeram até camisetas, bandeiras e (alegadamente) tatuagens. 

As buscas no Google por 09F9 aumentaram exponencialmente, indiferente às imcansáveis ameaças legais feitas para qualquer um que sussurasse o "número proibido". 
Ações legais subsequentes não fizeram nada e provaram a futilidade infinita de tentar banir um número da internet por ordem judicial.

Não só chaves criptográficas são números: todo arquivo armazenado em um computador, transmitido pela rede, é um número, pode ser uma foto, um trecho de código, um vídeo de alguém chamado um mimistro de gordo.

O caso 090F foi emblemático, um prenúncio das inúmeras tentativas frustradas da parte de detentores de algum poder ou privilégio especial em banir números da internet pela força; quanto mais enérgicas e polêmicas as tentativas de censura, mais a informação se multiplica.

https://www.eff.org/deeplinks/2007/05/09-f9-legal-primer

https://image.nostr.build/eb8de31ecd5de55c33d7a18057311dce8078f72864bad43e274450fa45242a57.jpg