Kamala x Trump: qual o impacto das eleições americanas na relação diplomática entre Brasil e Estados Unidos? https://s2-g1.glbimg.com/FjIhVAPJs9PwnzXYi2duFSmIArM=/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2024/G/d/70BBRUQYCsRU2sEeAkHA/o-que-pensam-kamala-e-trump.png Eleições dos Estados Unidos acontecem nesta terça-feira (5). Trump e Kamala se cumprimentam durante debate em 10 de setembro Reuters/Brian Snyder Proteção à democracia, defesa do meio ambiente, relação com a China e posicionamento sobre as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio são alguns dos temas que podem impactar a relação Brasil-Estados Unidos a depender do resultado das eleições americanas. No próximo dia 5 de novembro, vão se enfrentar nas urnas, de um lado, o ex-presidente Donald Trump, figura do partido republicano que representa a extrema direita, e, de outro, a vice-presidente Kamala Harris, democrata com perfil mais progressista que pode ser a primeira mulher, com origem negra e asiática, a liderar a nação mais poderosa do mundo. Para analisar as perspectivas para as relações diplomáticas entre os dois países, que, neste ano, completaram 200 anos, o g1 conversou com Tanguy Baghdadi, professor de relações internacionais e fundador do podcast Petit Journal, e com Hussein Kalout, cientista político e ex-secretário de Ações Estratégicas do governo de Michel Temer. Cenário em que Donald Trump vença Trump durante comício em 12 de outubro na Califórnia AP Foto/Alex Gallardo Levando em consideração o último mandato de Donald Trump, Tanguy Baghdadi entende que o estilo de fazer política externa do ex-presidente americano é o de se aproximar de países e líderes que "aceitem sua liderança", mesmo que não sejam da mesma ala política. "Não há uma garantia de que a relação seria ruim, até porque, o Lula também, em diversos momentos, já buscou a aproximação com líderes que não eram exatamente de esquerda. Então, há uma certa facilidade dos dois em promover esse diálogo", analisa. Para Baghdadi, a comunicação entre o atual presidente Lula e Trump seria de uma forma mais protocolar, mantendo acordos existentes entre os dois países, o que ele descreve como "uma certa manutenção de um relacionamento bilateral respeitoso". O professor prevê ainda que, inicialmente, a relação seja de certa "desconfiança" e "frieza". 🗳️ Apoio político Tanto Tanguy Baghdadi quanto Husseim Kalout entendem que a próxima eleição presidencial no Brasil pode ser desafiadora para uma eventual chapa petista considerando que Trump apoiou o então presidente Jair Bolsonaro em 2022 — ambos falam com o mesmo eleitorado de direita e têm discursos parecidos, diz Baghdadi. "Se, em uma eleição futura no Brasil, nós tivermos questionamentos no processo eleitoral e uma inflexão na nossa ordem democrática, o comportamento do Trump não será igual ao comportamento do Biden ou da Kamala. Ele vai tomar um lado, né? E, provavelmente, será o lado, digamos, do bolsonarismo", comenta Kalout. Além disso, Trump e Bolsonaro carregam outro ponto em comum: ambos são investigados pela participação em uma tentativa de golpe contra a democracia em seus respectivos países. Em 6 de janeiro de 2021, milhares de apoiadores do republicano invadiram o Capitólio em Washington, sede do Legislativo americano, na tentativa de impedir a realização da sessão que formalizaria a vitória de Joe Biden em 2020. Dois anos depois, em 8 de janeiro de 2023, bolsonaristas invadiram a sede dos Três Poderes com o objetivo de tentar dar um golpe de estado contra o governo recém-eleito de Lula. ❌ Visões opostas: meio ambiente, China e Venezuela Caso Donald Trump volte a presidir os EUA, o Brasil pode ter que lidar com uma mudança drástica em alguns segmentos, avaliam os especialistas. Apesar de o eixo comercial de investimentos ser mantido, o que diz respeito ao meio ambiente pode colapsar, entende Kalout. O ex-secretário de Ações Estratégicas do governo Temer também acredita que o Brasil pode ser "empurrado a buscar um alinhamento quase que automático com a China, o que seria um fato inédito na política externa brasileira". O governo Biden tem tido prudência para lidar com a rivalidade entre Estados Unidos e China, ele sabe que pode ter consequências graves. O Trump é muito mais agressivo. (...) Isso tende a ter impactos diretos nas escolhas do Brasil entre China e Estados Unidos. Outro ponto sensível nesta relação seria a Venezuela. Husseim Kalout explica que, por mais que o governo brasileiro cobre as atas das eleições venezuelanas de 2024 e ainda não tenha reconhecido o resultado do pleito, Trump, por sua vez, é muito mais enfático que Joe Biden e Kamala Harris ao criticar o governo de Nicolás Maduro. Cenário em que Kamala Harris vença Kamala discursa em culto em igreja batista na Geórgia em 20 de outubro Reuters/Elijah Nouvelage No caso de uma vitória de Kamala Harris, os especialistas ponderam que eixos hoje já existentes poderão ser mantidos, como: preservação do multilateralismo; importância da ordem democrática; entendimento da liberdade de expressão nas redes; proteção dos direitos humanos; e defesa do meio ambiente. 👉 Posição política O professor de relações internacionais Tanguy Baghdadi observa que tanto a agenda de Lula quanto a de Kamala (e antes a de Biden) na luta contra a direita são muito parecidas. Durante um encontro em fevereiro de 2023, Lula e Biden reafirmaram os laços políticos, econômicos e culturais, marcados pelo entendimento de proteção à democracia, dos direitos humanos e da preservação do meio ambiente. Apesar disso, o professor diz que não é possível considerar que haja hoje uma grande proximidade entre Brasil e Estados Unidos. Para ele, está mais clara "uma relação de cordialidade", que deve ser mantida em uma eventual vitória de Kamala: "Em nenhum cenário eu consigo imaginar uma grande guinada nessa relação". 🌎 Posicionamento internacional Husseim Kalout ressalta que Brasil e Estados Unidos são considerados países parceiros, mas não aliados. Isso porque, embora os EUA sejam o segundo maior parceiro comercial do Brasil, no entendimento americano, são aliadas as nações que se apoiam militarmente — o que não é o caso, explica o cientista político. Os dois países têm perfis muito diferentes no que diz respeito à política externa, comenta Tanguy. Com isso, posicionamentos quanto à guerra na Ucrânia e em Israel e outros países do Oriente Médio podem ser bastante distintos. A postura do Brasil, segundo o professor, é de maior proximidade com países parecidos com o contexto brasileiro. "Eu não espero que nenhum dos dois governos, seja um governo de Trump, seja um governo da Kamala, vá ter o Brasil como grande prioridade. Eu acho que atualmente é uma relação de distância e ela vai continuar sendo assim", conclui Tanguy Baghdadi. O que pensam Kamala Harris e Donald Trump arte/g1 📽️📽️📽️ No vídeo abaixo, veja análise sobre as maiores preocupações dos eleitores americanos: EUA: eleitores se preocupam com comportamento de Trump e honestidade de Kamala https://g1.globo.com/mundo/eleicoes-nos-eua/2024/noticia/2024/11/03/kamala-x-trump-qual-o-impacto-das-eleicoes-americanas-na-relacao-diplomatica-entre-brasil-e-estados-unidos.ghtml