ainda não li rothbard e prometi não discutir sobre o assunto antes de ler, mas ficam algumas dúvidas desde já aos amigos ancap: 1. eu mesmo já abandonei a dicotomia esquerda barra direita faz tempo, mas por quase toda minha vida me identifiquei como esquerda pois: anarquista. a razão lógica é que a anarquia foi um movimento bem anterior à dicotomia em si, logo: desta independente. de todo modo, a dicotomia nasceu na revolução francesa da maneira mais simples e besta possível: girondinos sentados à direita, jacobinos sentados à esquerda. jacobinos eram formados por anarquistas (não, nem existia socialismo nessa época), baixa burguesia e camponeses, e defendiam a queda do estado monarca. radicais extremistas, a globo dizia. girondinos, por sua vez, eram teoricamente liberais da alta burguesia e defendiam a manutenção do estado monarca (embora locke, pai do liberalismo, cem antes antes, defendesse a mínima interferência do estado na vida dos indivíduos, atuando apenas na mediação de conflitos e na defesa do direito à propriedade.) socialistas só foram aparecer dali a meio século e basicamente só foram defender o estado já com marx -- marx que se arrependeu disso e reviu suas ideias antes de morrer. a prática estado barra partido no socialismo só veio, após a frustração de paris, nos idos de 1910, ou seja, tem pouco mais de cem anos. conquanto anarquistas e libertários (expressão criada por um socialista, diga-se, joseph déjacque, em 1857, em carta ao mutualista pierre joseph proudhon -- talvez daí o fetiche de agoristas? não sei, outra dúvida) seguiram na peleja desde então, era uma peleja basicamente contra... a direita que, de fato, de girondinos, seguiram de mãos dadas ao estado e às corporações até se transmutarem no neoliberalismo dos monopólios privados e estatais de pinochet em diante (inclusive, o temer -- e o povo todo de davos). cenário no qual até entendo o surgimento de mises e rothbard, mas... não seria mais fácil (em especial, pra quem tanto se diz incomodado com novilínguas) ter resgatado o liberalismo de locke em vez de ficar criando confusão semântica entre anarquismo vs capitalismo, agorismo vs mutualismo etc e, principalmente, confusão em uma conversa com alguém da esquerda libertária em vez de somar? nunca li rothbard, mas já li bastante coisa do olavo de carvalho, pré-2005, em particular os textos dele sobre leibniz e spinoza pro meu projeto de mestrado. um dos livros dele que mais me marcou (e geral em brasília, segundo gilmar mendes) foi a tradução da dialética erística de schopenhauer ou: como vencer um debate sem ter razão. li quando tinha 20 anos e aprendi que é fácil chamar o temer de socialista pra impactar a multidão. mas ninguém (de direita ou de esquerda, desde que com um mínimo de instrução) vai te respeitar, e com razão. pois você estará recaindo em erística. tio olavo tá vendo. portanto, reitero: pra que inventar moda? pra dividir ainda mais e assim ficar mais fácil de ser conquistado? 2. dúvida número dois: anarquia significa "sem líder". se não há líder, não há autoridade. se não há autoridade, não há hierarquia. se não há hierarquia: como faz no capitalismo, que necessariamente pressupõe tudo isso? um chefe, um dono, um corporativista. todos no topo da cadeia hierárquica, todos figuras de liderança, de autoridade. aqui, sempre bom lembrar: mercado existe desde que o mundo é mundo, não se confunde com capitalismo nem liberalismo. e de novo: livre mercado é um conceito anarquista bem anterior ao capitalismo e ao liberalismo. e é isso. modos. obrigado. #asknostr