"Alguém morreu na estranha madrugada.
Morreu sem lamentar-se inutilmente.
A noite escureceu sobre a sua alma,
cravaram-se as estrelas no seu corpo.
Alguém morreu na estranha madrugada.
Homens velhos torceram-se na cama
e as colunas de sangue dessa morte
pesaram sobre a terra adormecida.
Um homem? Uma mulher? A nós que importa?
A vida debateu-se no silêncio
e foi por fim tragada pelas águas
no fogo e no diamante incendiado.
E as colunas de sangue dessa morte
quebraram-se na aurora contra os muros.
Não houve pranto inútil nem lamentos:
alguém morreu na estranha madrugada."
- Cego em O Desertor de Princesa de Ariano Suassuna